19/08 – Na sequência das eleições ao Parlamento Europeu, o bloco de ultradireita Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), liderado pela primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, consolidou seu poder ao garantir cargos de alto escalão em 13 dos 20 comitês e quatro subcomitês do órgão legislativo da União Europeia (UE). O ECR, que se tornou a quarta maior força no Parlamento, obteve três presidências e dez vice-presidências, com destaque para o partido de Meloni, Irmãos da Itália, que ocupou sete dessas posições em comitês estratégicos.
Este avanço foi comemorado por membros do partido de Meloni, como Carlo Fidanza, que destacou o crescimento significativo do Irmãos da Itália, antes presente em apenas um comitê. Nicola Procaccini, co-líder da bancada do ECR, celebrou a influência crescente do grupo, apesar das tentativas de boicote por parte da esquerda. “A maioria mudou, e os conservadores podem ser decisivos para os próximos cinco anos de legislatura”, afirmou Procaccini.
Entretanto, a ascensão do ECR e a normalização da ultradireita em posições de poder no Parlamento Europeu têm gerado preocupações. Observadores temem que essa influência possa impactar negativamente a agenda do Parlamento, levando à erosão de valores democráticos e à implementação de políticas alinhadas com a ideologia ultraconservadora, como a restrição dos direitos das mulheres, liberdade de imprensa e políticas migratórias.
A historiadora Zsuzsanna Vegh, do German Marshall Fund, advertiu que a falta de um “cordão sanitário” — a estratégia de recusa de acordos com a ultradireita por parte de partidos tradicionais — pode comprometer os avanços da integração europeia. Ela destaca que as posições em comitês são cruciais para o trabalho legislativo, e a presença de membros do ECR nessas funções pode direcionar a legislação europeia para uma linha ideológica conservadora.
Apesar das críticas, Fidanza defende que o Irmãos da Itália não deve ser rotulado como ultradireita, argumentando que o partido foi estigmatizado pela esquerda. No entanto, analistas como Julien Holz apontam que a crescente presença do partido no Parlamento Europeu pode ter efeitos negativos sobre políticas progressistas.
Giorgia Meloni, embora tenha suavizado algumas das políticas mais extremas do Irmãos da Itália nos últimos anos, continua sendo vista como uma figura problemática em relação aos valores europeus, especialmente no que tange à liberdade de imprensa e à defesa dos direitos democráticos. Desde que assumiu o cargo de primeira-ministra da Itália, Meloni tem buscado alinhar-se com as políticas de defesa da UE, mas sua liderança no bloco ECR levanta preocupações sobre o futuro da legislação e das políticas europeias nos próximos anos.
O avanço do ECR no Parlamento Europeu sinaliza uma nova fase na política da UE, com a ultradireita ganhando terreno e potencialmente moldando a agenda legislativa de forma mais conservadora nos próximos cinco anos.
