09/11 – A 9ª Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) realizada na orla do Parque Nanci, debateu ancestralidade e suas raízes. Mediada pela cantora Rita Benneditto, a roda de conversa reuniu o fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa (branco); a escritora e presidente do Museu da História e da Cultura Afro-brasileira, Sinara Rubia (preta); e a escritora indígena Eliana Potiguara.
Rita Benneditto iniciou o papo aberto perguntando aos participantes como as raízes culturais e a memória ancestral influenciam o ativismo e as lutas desenvolvida por eles. A escritora Potiguara afirmou que os povos indígenas, primeiros habitantes de terras brasileiras, lutam há 524 anos por suas culturas, tradições e terras, e criticou o Marco Temporal, projeto de lei da Câmara dos Deputados que não reconhece as terras indígenas antes de 1988.
“Isso é surreal. Como não reconhecer as terras indígenas, se nossos ancestrais viviam aqui na colonização do Brasil pelos portugueses? Quem escreveu esse projeto está interessado no capitalismo, no agronegócio. Ao longo dos séculos, a questão do capital tem trazido a luta de classes e aí engloba toda a sociedade mundial”, afirmou. “A nossa missão é a luta pela terra, por nosso povo e tudo isso é um desafio pra nós”, completou.
Ativista social, que busca políticas e mecanismos voltados para a diminuição da desigualdade social e que viabilizem melhores oportunidades para os moradores de comunidades pobres, Antônio Costa criou a Rio de Paz, instituição engajada na redução das violações dos direitos humanos por se indignar com a passividade da população diante de tantas mortes de inocentes no Rio de Janeiro.
“Quando eu vejo um menino raspando a cabeça de uma moça ou dando uma surra porque ela não quis mais namorar com ele, eu fico indignado. Quando eu vejo policiais negros matando moradores de comunidade negros, ou policiais negros, oriundos de comunidade morrendo e ninguém na rua para protestar, chego à conclusão que há um mal na nossa cultura que precisa ser enfrentado por todos nós”, apontou ele, responsável por liderar um protesto em 2007 quando foram colocadas 700 cruzes pretas na areia da praia de Copacabana e ganhou manchetes mundo afora com este símbolo da violência no Rio de Janeiro.
De 2007 até hoje, segundo Antônio, 100 crianças foram mortas por bala perdida nas favelas do Rio de Janeiro.
“Quantos foram para as ruas protestar? Vi uma mãe, que acabara de perder a filha ainda amamentando por uma bala perdida, inerte com o corpo da menina nos braços e não vi indignação da sociedade. Ouvi que o sistema prisional tem cor e os que morrem são parecidos. Precisamos lutar para acabar com o desrespeito da vida humana, principalmente do povo negro que historicamente é ignorado”, enfatizou.
Sinara Rubia pontuou que isso faz parte de um racismo estrutural, que é institucionalizado e que precisa ser descolonizado. Ao falar sobre ancestralidade, ela lembrou da resistência do povo negro na África quando foi capturado e escravizado.
“Sou herdeira desse povo que está presente em todas as áreas de produção da vida. O nosso principal desafio é reconhecer a nossa história”, ressaltou ela, que enalteceu a presença no Papo Flim do fundador do Rio de Paz. “Faz total sentido você participar dessa mesa porque eu não consigo separar questão racial do Brasil dos direitos humanos. Você mesmo trouxe o dado, a cor, o território e não dá para separar. Essa é uma luta que não pode ser feita somente por pessoas pretas”, acrescentou.
Formada em Letras e contadora de histórias, Sinara citou o primeiro livro que escreveu – “Alafiá”, uma princesa preta, que ganhou corpo na época em que fez a monografia para conclusão da faculdade. Sinara entrevistou meninas negras de 5 a 12 anos de escolas da rede pública de Petrópolis e concluiu que a literatura infantil só com personagens brancos dos contos de fadas impactava a construção da identidade das crianças negras.
“As crianças queriam mudar o cabelo e olhos das personagens das histórias infantis por algo próximo a elas. Por isso, escrevi essa história em 2005 após a faculdade, mas somente fiz o livro em 2019 porque não tinha a intenção de publicar. Sou uma contadora de histórias”, concluiu.
Escola de Idosos
Alunos da Escola Municipal de Idosos Milton Felipe Diniz, mantida pela Prefeitura de Maricá por meio da Secretaria de Educação, visitaram a Flim. Além de aproveitar as Mumbucas Literárias (vouchers de R$ 200 para a compra de livros), os estudantes fizeram apresentações musicais e de dança e visitaram a exposição “Heróis Quilombolas”.
Os idosos, ao chegarem na Flim, fizeram uma apresentação na abertura da Mostra Pedagógica, agenda voltada para profissionais da educação. Em seguida, foram recebidos pelo escritor Maciel Aguia, proprietário das peças na exposição, que fez uma palestra para contar a história de cada um dos heróis retratados nas esculturas.
Flimzinha
Na parte da tarde, o palco da Flimzinha recebeu uma apresentação da Wandinha, cosplay da personagem do famoso filme americano Família Addams, que ganhou série exclusiva na Neflix em 2022. Com um visual icônico e estilo gótico, a Wandinha divertiu os visitantes com danças e músicas que atraíram a atenção e divertiram a criançada. Os Addams são uma inversão satírica da família americana tradicional do século 20: um clã aristocrático rico e estranho que se delicia com o macabro e o sobrenatural e aparentemente não sabem ou não se preocupam com o fato das outras pessoas os acharem bizarros ou assustadores.
Programação desta Sexta-feira (08/11)
Flimzinha
9h30 – Teatro Lambe-Lambre – Trio de Três
14h30 – Apresentação musical Naruto
Arena Papo Flim
16h – Bate-papo “Democracia e futebol na formação de uma identidade territorial” – Prefeito de Maricá, Fabiano Horta; deputado federal e prefeito eleito, Washington Quaquá; ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e a cantora Teresa Cristina. Mediação: Arlen Pereira, presidente do Maricá FC.
18h – Roda de Conversa “Que história de samba é essa?” com Luiz Antonio Simas e Roberta Sá. Mediação: Flavia Oliveira
Palco Flim
21h – Show da Roberta Sá
Crédito: Bernardo Gomes